29 de ago. de 2008

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DE UM ROSTO


Quase torço o meu pé quando da subida nos degraus do meu bom e velho companheiro ônibus. É impressionante como aparecem pessoas do nada quando ele chega no ponto e abre suas portas. Você anda para entrar em quando olha está no meio de uma verdadeira muvuca, com tanta gente, que a sua única saída é investir na sua saga de conseguir entrar entre apertos e empurrões. “Coisa de pobre!” diriam aqueles que têm (utilizando de eufemismo) a ponta do nariz voltado ao sol. Mas é a realidade... Então, vamos à ela!


Só que não é sobre a luta para se pegar um ônibus em horário de pico no centro da cidade que eu quero falar. O que mais me chama a atenção em mais este recorte cotidiano é a figura daquela senhora sentada no fundo do ônibus. Seu rosto moreno e enrugado traz marcas de sofrimento; de alguém que lutou (e luta) pela sobrevivência sua e de sua família. Traz no seu colo uma criança que, creio eu, não tem mais de dois anos. Como se não bastasse, ao seu lado existem mais duas, um menino e uma menina maiorzinha.


Como sempre costuma a acontecer comigo, tive aqueles “flashs” como de filmes. Na minha cabeça o barulho parou e ninguém mais existia além daquela cena. Comecei a imaginar onde ela morava e como seria a sua vida. O que encontraria em casa quando chegasse àquela hora da noite (já passavam das 21h)? Ou melhor, teria ela e suas crianças uma casa?
Ao lado daquela incompleta família (ou completa, pois pode ser que a figura do pai não exista) havia algumas cadeiras vagas, mas ninguém sentou. Não entendi o porquê de nem eu mesmo ter sentado. Alguns minutos depois, juntando as três crianças e com uma sacola a tira-colo, aquela mulher desce de forma apressada. Espero que aquela mulher tenha chegado bem em casa com seus filhos.


Sigo o meu trajeto até chegar na minha parada e termino mais um dia de trabalho. Na minha cabeça fica uma história que eu imaginei e que perdi a oportunidade de confirmar quando não sentei do lado dela e puxei assunto. Mas é assim mesmo. Como aquele pedreiro do qual falei no meu texto “A Chuva”, essa é mais uma personagem do dia-a-dia que passa por nós. Às vezes despercebida, às vezes desconhecida... às vezes até ignorada.

Um comentário:

  1. A verdade é que não queremos perceber o próximo. Com o tempo tão curto que escapa por nossos dedos, não nos deixamos olhar ao nosso lado e tentar entender o que os corpos nos dizem, os seus trejeitos, sua maneira de andar, sentar e se portar, rostos com suas linhas de expressões, algumas que denotam sofrimento.
    E assim se passa
    passando
    passado
    passou a própria vida...

    Aline Durães

    ResponderExcluir