24 de out. de 2011

Penas negras

Ele nasceu com as penas negras.

Olhou ao redor e seus irmãos todos possuem penas brancas. Sua mãe também... seu pai também... Ele no início se sentiu confuso, não sabia o porquê nem como aconteceu de suas penas surgirem negras.

Os irmãos o olhavam diferente, os pais também. O resto dos pássaros que habitavam a mesma sequóia centenária então... ah, eles nem olhavam para o pobre pássaro negro! Em todas as atividades do dia-a-dia ele era colocado de lado. Mas por dentro ele sentia-se como os outros! Não entendia porquê eles não viam isso. Ele tinha fome, tinha alegrias, tristezas, amava, odiava, se iludia, e chorava... chorava muito. Por dentro principalmente. Nada de mostrar o que sente! Aí sim, ele seria tachado como diferente!

Seus vôos eram solitários. Não voava como os irmãos voavam, com a companhia dos pais. Na verdade até queria, mas os pais não queriam ser vistos com um que era diferente. Ele gostava mais de voar a noite. A luz da lua refletia e suas asas e, com o brilho, ele sentia suas penas brancas. Ah, como ele queria que aquela aparência durasse toda a vida!

Mas era só aparência. Nos primeiros raios de sol ele se via realmente como era e o pior: os outros também o viam. Ele desejava muito a aprovação do bando, mas as regras são rígidas. Aquele que é diferente, mesmo que só em aparência não pode andar com os outros! Ele se revoltava, pois todos agiam como se ele pudesse escolher as cores de suas penas. Ah... se ele pudesse escolher, escolheria viver à margem? Escolheria voar sozinho à noite? Escolheria ver seus irmãos saírem com os pais, e mesmo que brigões, receberem aprovação só porque tinham penas brancas?

Ele não escolheu. Ele não pôde escolher. Mas uma coisa decidiu. Mas da próxima vez que o sol raiar não mostrará mais suas penas negras. Com o bico, ele começou arrancar uma a uma. Dói. Ele chora. Mas espera que agora, no amanhecer, ele seja igual aos outros.

Até suas penas negras voltarem a crescer.

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