19 de jun. de 2009

Oito contra oitenta mil Oito contra 180 milhões

Por Fenaj em 19/6/2009

Perplexos e indignados os jornalistas brasileiros enfrentam neste momento uma das piores situações da história da profissão no Brasil. Contrariando todas as expectativas da categoria e a opinião de grande parte da sociedade, o Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria, acatou, nesta quarta-feira (17/6), o voto do ministro Gilmar Mendes considerando inconstitucional o inciso V do art. 4º do Decreto-Lei 972 de 1969 que fixava a exigência do diploma de curso superior para o exercício da profissão de jornalista. Outros sete ministros acompanharam o voto do relator. Perde a categoria dos jornalistas e perdem também os 180 milhões de brasileiros, que não podem prescindir da informação de qualidade para o exercício de sua cidadania.

A decisão é um retrocesso institucional e acentua um vergonhoso atrelamento das recentes posições do STF aos interesses da elite brasileira e, neste caso em especial, ao baronato que controla os meios de comunicação do país. A sanha desregulamentadora que tem pontuado as manifestações dos ministros da mais alta corte do país consolida o cenário dos sonhos das empresas de mídia e ameaça as bases da própria democracia brasileira. Ao contrário do que querem fazer crer, a desregulamentação total das atividades de imprensa no Brasil não atende aos princípios da liberdade de expressão e de imprensa consignados na Constituição brasileira nem aos interesses da sociedade. A desregulamentação da profissão de jornalista é, na verdade, uma ameaça a esses princípios e, inequivocamente, uma ameaça a outras profissões regulamentadas que poderão passar pelo mesmo ataque, agora perpetrado contra os jornalistas.

O voto do STF humilha a memória de gerações de jornalistas profissionais e, irresponsavelmente, revoga uma conquista social de mais de 40 anos. Em sua lamentável manifestação, Gilmar Mendes defende transferir exclusivamente aos patrões a condição de definir critérios de acesso à profissão. Desrespeitosamente, joga por terra a tradição ocidental que consolidou a formação de profissionais que prestam relevantes serviços sociais por meio de um curso superior.

O presidente-relator e os demais magistrados, de modo geral, demonstraram não ter conhecimento suficiente para tomar decisão de tamanha repercussão social. Sem saber o que é o jornalismo, mais uma vez – como fizeram no julgamento da Lei de Imprensa – confundiram liberdade de expressão e de imprensa e direito de opinião com o exercício de uma atividade profissional especializada, que exige sólidos conhecimentos teóricos e técnicos, além de formação humana e ética.

A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), como entidade de representação máxima dos jornalistas brasileiros, esclarece que a decisão do STF eliminou a exigência do diploma para o acesso à profissão, mas que permanecem inalterados os demais dispositivos da regulamentação da profissão. Dessa forma, o registro profissional continua sendo condição de acesso à profissão e o Ministério do Trabalho e Emprego deve seguir registrando os jornalistas, diplomados ou não.

Igualmente, a FENAJ esclarece que a profissão de jornalista está consolidada não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. No caso brasileiro, a categoria mantém suas conquistas históricas, como os pisos salariais, a jornada diferenciada de cinco horas e a criação dos cursos superiores de jornalismo. Em que pese o duro golpe na educação superior, os cursos de jornalismo vão seguir capacitando os futuros profissionais e, certamente, continuarão a ser a porta de entrada na profissão para a grande maioria dos jovens brasileiros que sonham em se tornar jornalistas.

A FENAJ assume o compromisso público de seguir lutando em defesa da regulamentação da profissão e da qualificação do jornalismo. Assegura a todos os jornalistas em atuação no Brasil que tomará todas as medidas possíveis para rechaçar os ataques e iniciativas de desqualificar a profissão, impor a precarização das relações de trabalho e ampliar o arrocho salarial existente.

Neste momento crítico, a FENAJ conclama toda a categoria a mobilizar-se em torno dos Sindicatos. Somente a nossa organização coletiva, dentro das entidades sindicais, pode fazer frente a ofensiva do patronato e seus aliados contra o jornalismo e os jornalistas. Também conclama os demais segmentos profissionais e toda a sociedade, em especial os estudantes de jornalismo, que intensifiquem o apoio e a participação na luta pela valorização da profissão de jornalista.

Somos 80 mil jornalistas brasileiros. Milhares de profissionais que, somente através da formação, da regulamentação, da valorização do seu trabalho, conseguirão garantir dignidade para sua profissão e qualidade, interesse público, responsabilidade e ética para o jornalismo.

Para o bem do jornalismo e da democracia, vamos reagir a mais este golpe!


Publicado em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=542DAC008

2 comentários:

  1. rpz.. assunto polêmico. mas vou comentar.. sinceramente: Sou a favor dessa decisao. nao acredito que para exercer (plenamente) a profissao de jornalista precise de um diploma superior. vou defender minha tese... primeiro: fui estudante de jornalismo (1 ano de curso) mas abandonei porque vi q (no meu caso) nao conseguiria ser feliz. quase todos os companheiros de sala tinham como plano de carreira ser correspondente da globo em algum país.. ser ancora de algum jornal.. ser reporter da globo news etc etc etc. vi que estava n lugar errado mesmo. nao era aquilo que queria pra mim. Veja só.. temos inumeros jornalistas que exercem a profissao de uma maneira muito distante daquela q ele aprendeu na universidade. O que temos de jornalistas que mereciam ter o diploma cassado nao tá no gibi... por passarem informação truncada, por omitirem informações, por seguir a politica comercial do jornal (que existe em todo o país) etc etc etc. Lembro que na epoca cheguei a conclusao que teria que ser reporter de caderno cultural pra tentar ser um pouco mais feliz. mas nao era isso que eu queria. o que eu buscava na verdade (busco até hj) era uma maneira de clarear as ideias.. de transmitir fatos, reportar situacoes da maneira mais clara possivel. e eu sempre gostei de politica. mas nao dessa politica de voto - eleicao - brasilia - mas da politica verdadeira - das discussoes em torno das tomadas de decisao - de dias melhores para a sociedade. essas coisas que a gente alimenta na juventude e que eu tenho um forte pé dentro (cabeça corpo e membros). Mas o que eu quero dizer é que entendo que essa decisao pareça uma certa desvalorização da atvidade, da profissao - mas será que já, desde muto tempo, ela nao esteja exercendo seu real papel - será que o q aprendemos numa faculdade de jornalismo é levado a serio qdo saímos dela? foi essa pergunta q me fiz há alguns anos atrás. e foi a conclusao dela que me fez partir para outra - nao tao distante - mas um pouco mais dentro da realidade: publicidade e propaganda - que olha a ironia... sustenta os jornais impressos, televisivos etc. na verdade é tudo enlatado... made in brazil.

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  2. muito pertinente sua posição Tati... discussões boas vão por este caminho! e adorei o "made i brazil". fechou bem!

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